terça-feira, 2 de julho de 2013

Se eu fosse eu...

"(...)
 Se eu fosse eu, reagiria.
Diria exatamente o que eu penso e sinto quando alguém me agride sem perceber.
Deixaria minhas lágrimas rolarem livremente, não regularia o tom de voz, nem pensaria duas vezes antes de bronquear, mesmo correndo o risco de cometer uma injustiça, mesmo que mexicanizasse a cena.
Reclamaria em vez de perdoar e esquecer, em vez de deixar o tempo passar a fim de que a amizade resista, em vez de sofrer quieta no meu canto.

(...)

Se eu fosse eu, riria abertamente do que acho mais graça: pessoas prepotentes, que pensam saber mais do que os outros, e encorajaria os que pensam que sabem pouco, e sabem tanto.
Eu faço isso às vezes, mas não faço sempre, então nem sempre sou eu.

Se eu fosse eu, não evitaria dizer palavrões, não iria em missa de sétimo dia, não fingiria sentir certas emoções que não sinto, nem fingiria não sentir certas raivas que disfarço, certos soluços que engulo.

Se eu fosse eu, precisaria ser sozinha.

Se eu fosse eu, agiria como gata no cio, diria muito mais sim.

Se eu fosse eu, falaria muito, muito menos.
(...)
Se eu fosse indecentemente eu (...)"

(Martha Medeiros, do livro  "Non-Stop", páginas 139/140)

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